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Parto domiciliar: o guia completo

Parto domiciliar: o guia completo
Alô Bebê
Jul. 19 - 20 min read
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No final de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um documento com 56 recomendações para a realização de partos humanizados. A lista demonstra a preocupação da entidade internacional com intervenções médicas desnecessárias, além de respeitar as decisões tomadas pela gestante, mas também alerta sobre os riscos e medidas que devem ser adotados em procedimentos como esse.

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Mesmo com a possibilidade dos partos humanizados acontecerem em hospitais, o número de cesáreas praticamente dobrou em 15 anos (2000-2015) e o Brasil fica atrás apenas da República Dominicana no ranking do procedimento, realizando mais de 55% dos partos de maneira cirúrgica. O índice recomendado pela OMS é de 10% a 15%. 

Como a cesárea é recomendada apenas em casos de risco ou complicações, as alternativas menos invasivas e que permitem uma recuperação mais rápida têm se tornado cada vez mais procuradas e divulgadas. 

Neste cenário, o número de mulheres que opta por dar à luz em suas próprias residências têm aumentado nos últimos anos. Prática comum até a metade do século 20, o parto domiciliar representava menos de 1% em 2004, mas dez anos depois os registros voltaram a crescer. Na Holanda, por exemplo, 30% dos partos acontecem em casa. O país também registra apenas 10% de cesáreas. Nos Estados Unidos, 28% das mães escolhem dar a luz em casa. 

No Brasil, embora não exista uma uma regulamentação sobre o parto domiciliar, o Ministério da Saúde assegura às famílias o direito à escolha e a modalidade também registra aumento. O número de partos domiciliares em Curitiba, capital do Paraná, aumentou 26% nos últimos dois anos. O recorde de partos domiciliares é de São Paulo que, de acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde, teve 83% de aumento no número de partos realizados em casa entre os anos 2007 e 2016.

O Conselho Federal de Medicina é contra o parto domiciliar por não considerar o procedimento seguro e, por conta disso, médicos obstetras não participam dos partos domiciliares. Para muitos médicos, há uma desconfiança generalizada com relação ao sistema de saúde do Brasil, mas que mesmo com muitos os problemas estruturais no sistema de saúde brasileiro, o parto em ambiente hospitalar ainda é o mais seguro para as mães e bebês.

Medo

Recentemente o termo “violência obstétrica” foi excluído dos documentos de políticas públicas do Brasil, pois o governo federal considera o termo inadequado. Contudo, é uma expressão que abre diversas discussões sobre procedimentos ainda adotados em hospitais para a realização de partos. É o caso da polêmica manobra de Kristeller, que consiste na aplicação de força na parte superior do útero com o objetivo de forçar a saída rápida do bebê, ou a episiotomia (quando o períneo é cortado para aumentar a abertura do canal vaginal). Ambos os procedimentos são considerados ultrapassados e invasivos e causam medo em muitas gestantes.

É por isso que a OMS tem recomendado cada vez mais partos humanizados e algumas maternidades já possuem salas especiais para a realização de procedimentos que valorizem o momento da gestante e colaboram para que o processo seja o mais natural possível. Mesmo assim, há muitas mulheres e famílias que escolhem passar por todo o processo de parto respeitando o relógio biológico no conforto de um ambiente conhecido como a própria residência.

“Na moda”

A escolha pelo parto domiciliar também aumentou entre as famosas, o que também colabora para que muitas mulheres venham se informando e optando por esse tipo de parto. A top model brasileira, Gisele Bündchen, mãe de Ben (8) e Vivian (5), teve seus dois filhos de parto natural em uma banheira montada em sua casa. A atriz Sophie Charlotte, casada com Daniel de Oliveira, também decidiu pelo parto em casa desde o momento da descoberta da gravidez. Já apresentadora de televisão, Bela Gil, além de ter escolhido ter seu filho em casa, fez a transmissão do parto ao vivo pelo YouTube. Inspiradas por essas e outras celebridades, as gestantes brasileiras têm sentido cada vez mais segurança para realizar o parto domiciliar, uma vez que a maior parte das declarações entrevistas ressalta o momento como único, empoderador e de um forte laço entre mãe e bebê.

Quem pode fazer um parto domiciliar?

Mesmo em evidência e conquistando novas adeptas, especialistas e entidades médicas alertam para uma série de recomendações quando a opção é por realizar o parto domiciliar. Em primeiro lugar, o pré-natal e o acompanhamento de toda a gestação devem ser realizados regularmente, mesmo que a opção seja por um parto em casa. É muito importante que a mãe passe por todos os exames e testes que possam detectar com antecedência qualquer complicação e riscos para a gestação. 

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De maneira geral, o parto domiciliar é indicado apenas para gravidezes consideradas de baixo risco e devem ser assistidas por um profissional da saúde (enfermeiras/parteiras).

Além disso, é importante que a família esteja preparada para eventuais problemas e, por isso, é essencial ter um plano de emergência, considerando transporte até um hospital que esteja a menos de 10 minutos de distância.

A principal diferença entre o parto realizado no hospital para os partos humanizados e/ou os realizados em casa, é que a escolha predominantemente durante todo o trabalho de parto é o da mulher, que pode decidir em qual posição ficar e até mesmo onde ficar. Há inúmeros vídeos disponíveis na internet, onde mulheres dão à luz em piscinas, chuveiro, banheiro, de cócoras ou até mesmo de pé.

Parteira ou doula

Mesmo que os órgãos de saúde recomendem a presença do médico obstetra nos partos, figuras como as parteiras e as doulas também começam a fazer parte da rotina de quem escolhe dar à luz em casa.

Aqui também é preciso estar atento: a doula não está habilitada a fazer procedimentos clínicos e o seu principal papel é dar apoio e conforto à mãe durante todo o trabalho de parto. Sendo assim, a relação entre a gestante (ou casal) normalmente tem início antes do parto em, pois é a doula que também pode fornecer informações e dicas para tranquilizar o casal até o momento do nascimento do bebê.

Além disso, é comum que as doulas ensinem técnicas de respiração, massagens, movimentos e posições para facilitar o trabalho de parto. Algumas pesquisas já revelaram que a presença das doulas durante o parto, reduzem a necessidade de medicação e até mesmo de cesáreas (caso a mulher desista do parto domiciliar já em trabalho de parto).

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Já as parteiras podem fazer procedimentos clínicos e no Brasil podem ter o título de enfermeiras obstétricas ou obstetrizes. A presença de uma parteira auxilia nos primeiros cuidados do bebê e da mãe no pós-parto, além de dar a assistência necessária caso haja alguma complicação e necessidade de encaminhamento da mãe ou do bebê para o hospital. 

Nos dois casos a recomendação é que antes de escolher as duas pessoas que irão acompanhar a gestação e o parto, algumas medidas sejam adotadas:

Entrevista: marque uma conversa presencial com a doula e a parteira e procure tirar todas as suas dúvidas, principalmente com relação a experiência da pessoa naquela função. Número de partos, período de atuação, como se tornou parteira ou doula, como costuma trabalhar, etc.

Indicações: peça uma lista de pessoas com quem ela já trabalhou e busque referências sobre como foi o apoio da pessoa durante o parto. É importante que a gestante esteja 100% segura com a escolha.

Pesquisa: use a internet a seu favor, descubra se a parteira e a doula têm canais ou sites para indicar ou até mesmo conteúdos que ela tenha sido autora, além de grupos de apoio que funcionem em sua cidade, onde você poderá conversar com outras gestantes.

Imprevistos: parte da premissa do parto domiciliar é respeitar também o tempo da mulher e do bebê, por isso, é importante saber qual a alternativa em caso da mulher entrar em trabalho de parto e a parteira ou a doula não estejam disponíveis para aquele atendimento. 

Outro ponto de alerta é que no parto domiciliar não há a aplicação de anestesia e que a parteira e a doula poderão auxiliar em métodos alternativos para o controle da dor. Se a gestante mudar de ideia durante o trabalho de parto e quiser fazer o uso de anestesia, será necessário ir até um hospital.

Como preparar a casa?

Está decidido: o parto será em casa, o pré-natal será realizado pelo obstetra de confiança, a doula e a parteira foram escolhidas, o quarto do bebê começa a ser planejado, mas o que é necessário para o grande dia?

Lembre-se: o trabalho de parto pode durar horas e tudo precisa estar preparado e com fácil acesso para evitar estresses desnecessários e até mesmo acidentes. Vale pensar desde baldes e recipientes que servirão para esquentar água, toalhas, cobertores, roupas, até montar uma playlist especial para o tão aguardado momento. Uma dica interessante é fazer um check-list com o apoio da doula, parteira e obstetra e deixar tudo organizado para a semana do nascimento.

Atenção: é importante também se preparar caso seja necessário ir até o hospital, então planejar o transporte e a rota até o local ajuda a manter o foco para agir no momento.

Principais riscos

Muitos profissionais da área da saúde ainda divergem sobre a prática do parto domiciliar. Isso porque, por mais tranquila que uma gestação seja, complicações podem acontecer em todos os casos e a qualquer momento. Dessa maneira é importante ter conhecimento de todos os riscos envolvidos durante um parto domiciliar, que mesmo com todo o planejamento só receberá o aval final do médico a partir da 37ª semana de gestação.

As principais preocupações são com hemorragias que podem acontecer logo após o parto ou a elevação da pressão arterial materna, além do sofrimento fetal agudo (quando falta oxigênio para o feto) ou o prolapso do cordão umbilical (quando o cordão umbilical sai antes do que o bebê). Ainda assim, esses casos são raros, registrados em apenas 1% dos partos.

Conhecer todos os riscos e seguir todas as recomendações médicas ajudarão na decisão final de ter um parto domiciliar e poderão preparar o casal para o momento do nascimento.

Pesquisa australiana

Com o objetivo de analisar o tipo de parto mais seguro para a mulher, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, analisaram dados comparativos de cinco bases de artigos científicos sobre partos domiciliares e hospitalares, levando em consideração gestações de baixo risco e em mulheres que não nunca haviam passado por uma cesárea.  

A pesquisa reuniu 28 artigos (publicados entre os anos 2000 a 2016), com informações sobre a mortalidade (tanto de mães quanto dos bebês), complicações maternas, ou admissões em UTI neonatais de países como Japão, Holanda, Estados Unidos e Austrália.

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A conclusão ao analisar os documentos e cruzar os dados, foi a de que não há uma diferença estatística com relação ao número de óbitos fetais ou de recém-nascidos que acontecem em partos em hospitais ou ambientes domésticos. Isso significa, de acordo com a pesquisa, que o parto domiciliar não aumenta o risco de óbito ou internação em UTI.

A análise dos pesquisadores australianos também revelou que um parto domiciliar pode reduzir em 65% as chances de ser necessário fazer uma cesárea e em 63% a necessidade de utilizar instrumentos como o fórceps (instrumento utilizado para auxiliar a retirada do feto, quando a contração natural não é suficiente). Além disso, nos partos realizados em casa, há 43% menos chance de acontecer uma laceração perineal grave (corte na região íntima) e até 23% menos chance de hemorragia pós parto, que pode acontecer devido a falta de contração do útero depois do nascimento do bebê, falta de coagulação no sangue, presença de miomas no útero e até mesmo um trabalho de parto de longa duração (superior a doze horas).

Momento único

Muitas mulheres que passaram pela experiência de ter um parto domiciliar relatam uma série de sensações durante o processo, que acabam tornando toda a experiência um momento extremamente particular e ao mesmo tempo de conexão extrema com o bebê a até mesmo com os companheiros.

Algumas famílias optam, inclusive, por transformar o momento em uma experiência compartilhada entre toda a família, reunindo além do parceiro, os irmãos mais velhos do bebê e outros familiares e pessoas próximas à família. Isso é mais um momento que somente o parto domiciliar pode proporcionar, já que a presença de familiares é restrita em ambientes hospitalares e os horários de visita são controlados.

Recentemente um vídeo que mostra uma mãe dando à luz ao seu bebê no jardim de sua residência, enquanto os outros filhos brincam normalmente, viralizou nas redes. As cenas impressionam por causa da calma e a tranquilidade do ambiente, mas também gerou debate entre os internautas. Enquanto muitas pessoas parabenizaram a família pela escolha e pelo momento, muitos criticaram o ato, principalmente pelo momento que o bebê de fato vem ao mundo, caindo direto no gramado, o que poderia ter machucado gravemente a criança. Na sequência do vídeo, no entanto, é possível observar que mãe e bebê passam bem e que a recuperação da mulher é praticamente imediata.

O plano de saúde cobre?

Ter um parto em casa pode variar de R$ 4 a R$ 10 mil no Brasil. Normalmente os valores englobam gastos com consultas domiciliares do pré-natal, acompanhamento de todo o trabalho de parto e nascimento, assistência de equipe de enfermagem e consultas pós-parto.

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De acordo com a Agência Nacional da Saúde (ANS), os planos de saúde não são obrigados a prestarem assistência domiciliar (essa regulamentação está prevista na Leinº9.656/98). Entretanto, a maior parte das empresas de planos de saúde oferece a assistência domiciliar (até mesmo os partos) como um serviço adicional.

Dessa maneira, vale uma análise do contrato vigente com a operadora do plano de saúde e entrar em contato com a empresa para conhecer as possibilidades. 

Responsabilidades depois do nascimento

Após dar à luz em casa, dois testes essenciais devem ser feitos pela equipe que acompanhou o parto: o do pezinho (para o diagnóstico precoce de diversas doenças) e apgar (teste realizado no primeiro e no quinto minuto de vida do recém nascido para medir a frequência cardíaca, respiração, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor da pele).

É imprescindível levar o bebê até um pediatra (ou fazer a consulta em casa, caso o plano de saúde preveja atendimento domiciliar ou o médico realize este tipo de atendimento) entre as primeiras 48 horas de vida do bebê. Além disso, a parteira/enfermeira deve fazer a emissão da Declaração de Nascido Vivo, por isso a necessidade de uma profissional habilitada. O documento deve ser apresentado no cartório para realizar o registro de nascimento da criança. Por lei, os pais devem fazer o registro (em um cartório próximo ao local do parto) em até 15 dias depois do nascimento. 

Informe-se

Leia, pesquise, peça indicações para o seu médico e depois… ainda pesquise mais um pouco. Após receber o resultado positivo da gravidez, se o parto domiciliar é uma das opções, esteja por dentro de todas as informações. Existe grupos de apoio na sua cidade? Há encontros e palestras sobre o assunto que você possa participar? Anote todas as suas dúvidas e leve-as para o seu médico e/ou nos encontros que reúnam outras mães, doulas e parteiras.

Siga o pré-natal

 

Essa é uma dica fundamental. O pré-natal é uma etapa essencial no cuidado da gestante e do feto. É através dos exames realizados neste período que complicações podem ser identificadas com antecedência e até mesmo tratadas. Vale reforçar que o parto domiciliar só será liberado em definitivo a partir da trigésima sétima semana de gravidez e após a exclusão de todos os riscos, tanto para a mãe quanto para o bebê.

Converse

Ouça outras mães que passaram por um parto domiciliar e pergunte todos os detalhes sobre o procedimento. Grupos em redes sociais podem ajudar a diminuir a ansiedade e colaborar com novas informações.

Ouça o seu médico

As recomendações do médico devem ser levadas em consideração e seguidas à risca. Se a opção for por um parto em casa, a dica é procurar um médico que entenda sua decisão e que irá fazer o seu acompanhamento sempre levando em consideração a sua escolha pessoal e a sua segurança e a do bebê.

Reúna a família

O apoio familiar é muito importante desde a escolha por um parto em casa e principalmente na hora do parto. É importante definir os papéis e os níveis de participação que cada familiar terá em todas as etapas e estar preparado para ouvir opiniões contrárias sobre o assunto, mas também lembrar que a decisão final cabe a mulher (ou ao casal).

Doula e parteira

A doula e a parteira estarão presentes no momento mais íntimo da mulher. Por isso, é imprescindível estabelecer uma confiança. Leve o processo de escolha dessas duas pessoas muito a sério, busque referências, entreviste e saiba com antecedência o que fazer caso uma das duas não consiga chegar a tempo do parto.

Faça um check-list

Com o apoio do médico obstreta, da doula e da parteira, faça um check-list para o grande dia. Quais os itens básicos precisam estar prontos e de fácil acesso. Quando o parto acontece em hospital, é comum os pais prepararem a famosa “malinha” para o grande dia. Em casa, a regra não é diferente, e a ideia é estar preparado para evitar estresse e acidentes. 

Plano de emergência

Mesmo com tudo planejado e seguindo o fluxo normal das etapas, esteja preparado caso seja necessário ir até um hospital. O ideal é estar a menos de 10 minutos de distância e com o transporte garantido. Ouça a doula e a parteira e siga as recomendações.

Acompanhamento

Lembre-se que o alguns testes precisam ser feitos nos bebês logo após o nascimento e que a primeira visita ao pediatra deve acontecer em no máximo 48 horas. A mulher também precisa seguir todas as orientações e marcar uma consulta ao ginecologista logo em seguida ao parto. 

Leis

Não esqueça que o registro de nascimento deve ser feito em no máximo 15 dias após o nascimento. Para isso, a parteira precisa entregar aos pais a Declaração do Nascido Vivo, documento a ser apresentado no cartório mais próximo da residência. 

LEIA MAISAfinal de contas, o que é um parto humanizado?

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