Onde tem irmão, tem briga. Eles podem ser do mesmo sexo, ou de sexos diferentes. Podem ter idades próximas ou distantes. Onde tem família com dois ou mais filhos vai existir briga entre irmãos.
Como é uma máxima já esperada, é importante que os pais estejam preparados para esse acontecimento assim que o segundo filho se anunciar. É natural e absolutamente comum. Estranhos são os casos de irmãos que não competem, não brigam e só se apoiam. Não espere por isso, porque casos assim são realmente raros.
Por que os irmão brigam?
Em primeiríssimo lugar, a briga entre irmãos é uma garantia de sobrevivência. Parece um contra-senso. Afinal, como atitudes agressivas e de competição podem ajudar a sobreviver?
A resposta está na natureza. O velho Charles Darwin, pai da seleção natural das espécies, já dizia que não são nem os mais bonitos e nem os mais inteligentes que sobrevivem na natureza. São, antes, os mais espertos, porque se adaptam melhor a qualquer situação.
Em palavras mais simples, os filhos sabem que precisam dos cuidados e da proteção dos pais para sobreviver. Ter um ou mais irmãos para concorrer com você em relação a essa atenção pode dificultar um pouco as coisas. Os pais precisam estar atentos a muitos filhotes e não a um só.
Por isso, a briga entre irmãos mostra essa ideia de competir e o mais apto se sobressai. O que aparece mais, o que ganha as brigas, o que se impõe, minimiza — em tese até neutraliza — a ação do mais fraco e ganha a atenção exclusiva dos pais. Claro que esse é um comportamento hereditário e difícil de contornar. Mas é possível e depende só de educação.
A briga entre irmãos, ou irmãs, também pode acontecer por ciúme e possessividade em relação a objetos e pessoas. Se as crianças adoram um mesmo travesseiro, brinquedo, copo, ou qualquer outra peça, as disputas vão fatalmente acontecer. Se é assim com objetos, imagine com pessoas queridas como uma tia, um primo, os avós, e — pior ainda — papai e mamãe.
Os filhos disputam, sim, o amor dos entes queridos, porque vêem no irmão uma ameaça à integralidade daquele sentimento, como se um tio só pudesse gostar, brincar e levar para passear um único sobrinho. Crianças não entendem que amor não é finito e pode sim ser compartilhado.
Entendendo que essas situações são recorrentes e esperadas, como os pais devem lidar com a briga entre irmãos? Primeiro, claro, se conformando que ela vai acontecer. Isso muda tudo.
Pais inconformados com as disputas gastam tanto tempo se indignando que não conseguem agir cirurgicamente como se deve. Se os pais já compreendem que os conflitos vão acontecer, então dá para agir em duas frentes.
Prevenir e remediar
Prevenir significa, primeiro, se antecipar à disputas. Combinar a divisão dos objetos, dos chocolates mais queridos, do tempo de videogame, das tarefas de cada um. Se tudo isso está bem acertado, a briga não se justifica.
Da mesma forma, explicar as ações que estão sendo pensadas e tomadas, discutindo os valores daquela família, condenando a competição e elogiando a cooperação.
Sempre que seus filhos conseguirem combinar algo entre eles e cumprirem, elogie e estimule. Sempre que disputarem por questões previamente acertadas e descumpridas na prática, brigue e oriente como fazer corretamente.
Prevenir a briga entre irmãos também é plantar uma cultura de cooperação. Estabeleça tarefas e missões para as crianças desempenharem juntas. De coisas bem simples, como recolher os brinquedos, até outras mais complexas, como regar as plantas, ou pentear o cachorro.
Toda vez que seus filhos tentarem, aponte o que está acontecendo e elogie. Toda vez que conseguirem, comemore muito e sempre explique o valor daquela conquista.
Cada vez que flagrar seus filhos brincando ou fazendo espontaneamente atividades juntos — conversando, comendo, arrumando algo — elogie e estimule a ser sempre assim. Faça eles perceberem como esses momentos são muito mais prazerosos que o tempo que passam brigando.
Jamais estimule a competição entre seus filhos
Cada um deles tem uma idade, uma capacidade diferente, e mais ou menos facilidade para questões diversas. Não tem melhor, nem pior e não tem "com a sua idade, sua irmã já fazia isso e aquilo".
Comparar derruba a autoestima das crianças. Elas gostam de modelos, mas que não diminuam suas possibilidades. A segunda maneira que os pais podem lidar com a briga entre irmãos é remediando quando ela estiver acontecendo ou já tiver acontecido.
Nesse caso, a primeira providência é não tomar partido. Se os filhos disputam a atenção e a preferência dos pais, se a mãe ou o pai tomar as dores de um dos lados, vai ser a vitória da competição. Pai e mãe devem agir como juízes.
A premissa é: se os irmãos brigaram, já estão os dois errados
Ninguém tem a razão. Assim, é preciso ouvir o que os dois lados têm a dizer e chegar a uma sanção pelo desentendimento. Os pais devem se posicionar como conciliadores, separando a briga.
Violência de qualquer tipo — verbal, psicológica e física — não deve ser tolerada. Se um dos irmãos é bem maior que o outro, pior ainda. Inaceitável, sem discussão. Não permita e não discuta.
Cada parte deve apresentar seu ponto de vista e, primeiro os dois, e depois com ajuda do adulto se for necessário, devem propor uma solução factível e justa para todo mundo.
Se uma das crianças está trapaceando no uso do tempo do vídeo game, ou na troca de figurinhas, os pais devem ensiná-los a expor seu lado e chegarem juntos a uma resolução. Se as crianças não conseguirem sozinhas, proponha uma saída justa e factível. E cobre que seja cumprido.
Sempre que fecharem acordos e cumprirem, elogie, festeje, mostre a eles que é legal. Parceria é muito mais vantajoso para todos e os pais mantêm o papel de autoridade e liderança.
Num mundo tão conflituoso, lidar com brigas entre irmãos dentro de casa é uma tarefa importantíssima e de utilidade pública. Pode ser uma boa ideia — para conseguir uma família mais harmoniosa e um mundo menos violento — passar esses conhecimentos adiante pelas redes sociais.
Chega a ser uma obrigação para adultos preocupados com uma sociedade mais justa e solidária divulgar boas práticas e estimular os amigos e parentes a experimentá-las também. O nome disso é exemplo e seus filhos vão aprender e repetir! ;)