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Muito além dos pais: qual a influência do resto da família no desenvolvimento da criança?

Muito além dos pais: qual a influência do resto da família no desenvolvimento da criança?
Alô Bebê
Jun. 5 - 10 min read
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Ontem, no final da tarde, enquanto assistia a um jogo de futebol tenso porque seu time perdia por 1 a 0 e precisava da vitória, Marco Antônio recebeu uma mensagem de um tio. Era uma foto de quando Marquinho ainda tinha uns três anos, era bem gorducho e bochechudo, e seu tio, fazendo graça, sentou no seu colo.

O fotógrafo foi absolutamente feliz e flagrou uma tremenda gargalhada do menino que achava graça daquela situação invertida: criança é que senta no colo do adulto normalmente.

O riso da foto contagiou Marco Antônio cinco anos depois. Mesmo com a derrota do time, ele abriu um sorrisão e devolveu a mensagem: "Tio, não lembrava dessa foto. Adorei. Obrigado!" A partida perdeu a importância na hora e o moleque se sentiu feliz como no dia da brincadeira.

Mesmo que nem sempre tenhamos a sorte de alguém fotografar os bons momentos da vida justo na hora que eles acontecem, eles ficam registrados. No coração, na memória e na história das famílias.

Dá para arriscar dizer que são esses fragmentos de vida — uma brincadeira, um sorvete compartilhado, um empurrão no balanço, um colinho para dormir — que fazem a vida em família ser algo especial.

Não é exagero entender esses pedacinhos de alegria como presentes que a vida traz e que dão a ela sentido. A felicidade mora perto e é simples. Quando os pais entendem essa fórmula, a criação e a educação dos filhos muda de patamar.

Família ê, família á: família!

A rotina das famílias hoje é muito puxada e, diferente de outros tempos, é até bastante solitária. Os pais precisam dar conta de tudo para que o desenvolvimento da criança siga bem e para que não falte nada naquela casa.

Os amigos e parentes moram longe, o trânsito e os horários de trabalho afastam as pessoas e, na maioria das vezes, pai e mãe contam só com eles mesmos para resolver tudo.

Faz falta, mesmo que os pais não se deem conta, aquela família numerosa, cheia de gente para dividir tarefas e compartilhar bons momentos. Porque, se por um lado, família atormenta e dá trabalho, por outro, é um grupo de pessoas que quer o bem comum, que se ama apesar das dificuldades e que quer ver as crianças da casa crescerem felizes e saudáveis.

Por isso, talvez tenha chegado a hora de relaxar, aceitar a presença e a participação dos primos, tios e avós do seu filho. Com bons combinados, regras bem claras e uma boa dose de humor, é possível convidar os familiares mais para perto, contar com a ajuda deles e descansar um pouco.

Logo os pais percebem como essa companhia estendida faz bem ao desenvolvimento da criança, que ganha cuidados e exemplos de quem a ama de verdade e preza por seu bem estar. Claro que os pais também têm tudo isso, mas tios e avós — padrinhos também — têm uma leveza natural, porque a responsabilidade é outra.

Oferecer essa forma de cuidado para o filho, relaxa o coração dos pais, ensina a socialização e garante uma rede de carinhos e cuidados que não tem contra-indicação. Pais e mães muito ciumentos podem relaxar: ninguém rouba o lugar dos pais. Amor nunca divide, só soma e compartilha.

Primos: os primeiros amigos

Sortuda é a criança que nasce numa família que já tem outras crianças. Os primos — filhos dos irmãos e de primos próximos — costumam ser os primeiros parceiros de passeios e brincadeiras das crianças.

Como crescem juntos, nos mesmo ambientes e frequentando as mesmas pessoas, primos costumam virar bons amigos para a vida toda. Nem a diferença de idade pesa nessa relação. Na casa dos avós, por exemplo, enquanto os adultos almoçam, as crianças fazem farra no quarto ao lado.

Os mais velhos cuidam dos mais novos e os que têm a mesma faixa etária viram cúmplices nas traquinagens. Para o desenvolvimento da criança não há nada melhor.

O primo mais velho aprende cuidados e responsabilidades quando toma conta do caçulinha. O menor de todos, por sua vez, entende que outras pessoas podem cuidar bem dele, que papai e mamãe podem ter uma folguinha de vez em quando e que ele não vai passar apuro.

Claro que uma menina de 9 anos não deve ser a responsável absoluta por um bebê de um ano e meio. Os adultos podem dar aquela olhadinha e supervisionar a bagunça de tempos em tempos. No entanto, para brincar junto, desenhar e contar história, dá para confiar.

Tem mais uma coisa interessante: crianças costumam ser ótimas conselheiras e professoras umas das outras. Vendo os primos mais velhos brincar, o bebê vai aprender a brincar. Vendo os mais velhos jogar bola, ou trocar figurinha, o mais novo vai descobrir essas atividades também.

São aulas para o desenvolvimento da criança. E nessas, os adultos não são tão bons professores, aceitem e relaxem. O mesmo vale para a alimentação ou outros hábitos saudáveis. Ver os primos lavando as mãos antes de comer, ou escovando os dentes após as refeições, ou ainda tirando o prato da mesa após o almoço, são estímulos muito úteis e que funcionam.

Quando os primos têm mais ou menos a mesma idade, os interesses são comuns. Assim, os programas ficam muito mais divertidos quando o primo ou a prima estão junto. Um faz companhia para o outro e a diversão não termina nem na hora de dormir.

Pais atentos percebem que quando o filho tem companhia de um bom amigo, a dupla se resolve sozinha, inventa brincadeiras e passatempos e demandam muito menos dos adultos. Poder descansar um pouco, enquanto os meninos jogam uma partida de jogo da memória, é um luxo, não é? Sossego para os adultos, diversão com aprendizado para as crianças.

A relação com os primos também tem um componente de competição e disputa que podem até terminar em briga. É normal e, em certa medida, desejável. Primos e primas querem a atenção dos avós e dos tios, concorrem entre si pelo carinho, pelas gostosuras da cozinha da avó, por brinquedos e jogos. Como irmãos fariam.

A diferença é que há mais adultos para mediar esses pequenos conflitos. Se os pais, tios e avós acertarem as regras e o que é ou não tolerado, pronto, missão cumprida. Agressão não pode. Independentemente da idade das crianças. Bebê não bate no primão e primão não machuca os pequenos. Ponto.

Se precisarem de mediação para alguma desavença, os avós costumam ser bons juízes. A experiência e o carinho por todos ajudam muito nessas horas.

Agora, é importante saber que brigar faz parte do desenvolvimento infantil. Defender seu ponto de vista e buscar um caminho para que a solução seja boa para todos é um grande aprendizado, que serve para a vida toda. Melhor que os "alunos" tenham mais ou menos mesma faixa etária e estejam supervisionados por adultos que os amam.

Tios: responsáveis como pais, brincalhões como bons amigos

Se as crianças são sortudas por nascerem em famílias cheias de outras crianças, adultos são premiados quando têm irmãos e cunhados para dividir o rojão da criação dos filhotes.

Poder contar com um adulto de confiança para olhar pelo seu filho é, também, um luxo. Tios e tias vêem seus sobrinhos como presentes da vida e têm o impulso natural de se aproximar da criança.

Alguém com essa disposição só pode fazer bem para o desenvolvimento da criança. É um adulto que adora e se diverte com o pequeno, mas que tem responsabilidades e pode desempenhar as tarefas com tranquilidade. Dar a comida, levar para o banho, fazer companhia até os pais chegarem do trabalho são ajudas preciosas.

Tios também têm energia para levar para passear e inventar programas que os pais não fariam, por falta de tempo, dinheiro ou cansaço. Por isso, se na família existem essas figuras, relaxe e deixe a criança conviver. Tios gostam de futebol e cinema, tios gostam de levar à lanchonete, tios gostam de dar presentes fora de hora.

Para o desenvolvimento da criança só tem benefícios. Para começar, outro adulto vira referência também. Aquele tio do Marquinho que falamos lá em cima, aprendeu a torcer por um time de futebol com um tio dele. Não era a mesma equipe do pai (avô de Marquinhos), mas era uma paixão verdadeira, herança do tio.

Junto com Marco Antonio, o tio divide uma conta num desses aplicativos de gerenciamento de campeonatos virtuais de futebol, então eles têm sempre muito assunto para tratar, estratégias para traçar e vitórias para comemorar. Também vivem juntos as derrotas e se consolam mutuamente. O pai de Marquinho nem se mete, é assunto dele e do tio.

Faz parte do desenvolvimento da criança observar como esses outros adultos de referência — e aqui entram os padrinhos, mesmo que não sejam parentes de sangue — pensam, agem, resolvem as coisas. Faz parte do desenvolvimento da criança estabelecer relações com adultos de referência, para criar confiança e parceria. Traz segurança para a criança e descanso para os pais.

As tias de Marco Antônio se revezavam nos cuidados com ele enquanto a mãe do menino fazia um curso de pós graduação nas noites de segundas e quartas-feiras. Foi assim por um ano e meio, desde que ele era um bebê de colo.

Resultado: elas aprenderam a cuidar de neném e quando tiveram filhos foi tudo mais fácil. Marquinho entendeu logo que, se precisasse de qualquer coisa, podia recorrar às tias. Essa relação é forte até hoje e agora o menino retribui os cuidados no trato com os primos, filhos dessas tias mais próximas.


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