Ao nascerem, os bebês passam por uma bateria de exames que garantem que eles estão bem e que vieram ao mundo saudáveis. Entre as mais conhecidas dessas provas está o famoso Teste do Pezinho, que serve para identificar e diagnosticar uma variedade doenças congênitas, metabólicas e infecciosas, como a fibrose cística, a hiperplasia adrenal congênita e o hipotireoidismo congênito.
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Existe mais um exame que, embora seja menos conhecido, também é importante, tanto que se tornou obrigatório no Brasil desde 2014. Estamos falando do Teste da Linguinha, que deve ser conduzido em todas as maternidades do País, o que significa que os pais têm o direito de exigir que ele seja realizado. Esse é o assunto deste texto, então a seguir esclareceremos todas as dúvidas sobre o teste.
Por que o Teste da Linguinha é realizado?
Você já deve ter ouvido o termo "língua presa". O Teste da Linguinha é realizado justamente para verificar se o bebê nasceu com esse problema, uma condição que se dá quando o tecido sob a língua, o chamado frênulo, que conecta a língua ao assoalho da boca, é mais curto do que deveria, mais espesso ou pouco flexível, ocasionando uma restrição nos movimentos da língua. Na realidade, o termo médico para a falha é anquiloglossia, que consiste em um transtorno congênito presente em 1% a 2,8% das crianças no mundo – o que significa que se trata de uma condição relativamente incomum.
Causas da "língua presa"
Embora seja um problema de nascença, não existem evidências conclusivas que apontem que a anquiloglossia seja uma condição herdada dos pais. Entretanto, alguns estudos apontam que a "língua presa" parece ser mais prevalente quando há histórico familiar. De modo geral, existem duas causas principais para o seu surgimento: uma delas é que o frênulo simplesmente é curto demais ou pouco flexível; e a outra é que, durante o desenvolvimento da língua, essa membrana não se recolhe como deveria e continua presa à ponta da língua. Nesse segundo cenário, o principal sinal é que, quando a criança mostra a linguinha, a ponta apresenta formato de coração.
Além disso, existem diferentes graus de anquiloglossia, sendo que os mais suaves se caracterizam por a língua ficar apenas conectada por uma fina camada de tecido, enquanto nos casos mais severos, o bebê pode nascer com a língua completamente conectada ao assoalho da boca. Esse “tecido” que mencionamos consiste em uma membrana semelhante à mucosa presente na parte interna das bochechas, próxima à parte traseira dos molares e sob o lábio superior, onde ele se conecta com a arcada.
Como identificar?
O diagnóstico deve sempre ser feito por um especialista, mas as crianças que nascem com a língua presa geralmente não conseguem projetar a língua além dos lábios nem lambê-los, não podem tocar o céu da boca com a ponta da língua, não movem bem a língua para os lados ou cantos da boca, têm a ponta da língua com aparência achatada ou mais “quadrada” quando é estendida – em vez de mais arredondada, como é o comum – e formato de coração quando elevada. Ademais, é comum que, por conta da condição, exista maior espaçamento entre a arcada superior e a inferior, podendo gerar problemas durante a amamentação, já que os bebês com esse espaço extra tendem a pressionar e machucar os mamilos da mãe.
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Falando em amamentação, bebês nascem com vários reflexos importantes que os ajudam nos primeiros dias e ao longo dos primeiros meses de vida, e muitas dessas reações são involuntárias e acontecem de forma espontânea ou como resposta a algum estímulo. O ato de sugar, por exemplo, é desencadeado quando o céu da boca do recém-nascido é tocado, então, se essa região não for estimulada pela língua, o bebê pode ter mais dificuldades na hora de mamar, seja no peito da mãe, seja na mamadeira.
Além disso, como ter o frênulo lingual encurtado restringe os movimentos da língua, a condição favorece que os bebês tenham problemas na hora da pega e de sugar o leite materno, fazendo com que eles soltem o mamilo com mais frequência durante as mamadas, fiquem mais irritados na hora de mamar, gastem mais energia do que deveriam e exijam que as sessões de amamentação sejam mais longas e frequentes. Ademais, os pequenos tendem a se sentir nauseados e a regurgitar depois de mamar com mais facilidade também – e tudo isso contribui para que eles tenham dificuldades para ganhar peso.
Como o Teste da Linguinha é realizado?
O exame é bastante simples e, basicamente, o médico levanta e move a língua do bebê para verificar se a pele que a conecta ao assoalho da boca é muito curta, espessa demais, pouco flexível ou se há alguma anomalia. Caso algum problema seja identificado, cabe ao profissional indicar o tratamento mais adequado, uma vez que essa condição pode gerar complicações futuras ao pequeno.
Conforme mencionamos, uma consequência mais imediata é que o frênulo encurtado comprometa o aleitamento materno e inclusive prejudique a alimentação através de mamadeira, uma vez que a dificuldade de sugar faz com que a criança acabe “engolindo” mais ar durante as mamadas, ocasionando quadros mais frequentes de soluços, gases e cólicas. E, mais tarde, a criança pode enfrentar complicações na hora de mastigar e engolir alimentos sólidos e ter o desenvolvimento da fala prejudicado.
É importante frisar que nem todos os bebês que apresentam dificuldades na hora de mamar ou ganhar peso têm a língua presa, e nem todos os pequenos que têm a condição desenvolvem problemas de alimentação ou de fala. Tudo depende do grau de anquiloglossia de cada criança e do correto diagnóstico oferecido pelo especialista. Mas é comum, quando o quadro não é corretamente diagnosticado, que muitas mães que enfrentam adversidades na hora de amamentar se convençam de que o problema está na qualidade do leite ou em sua capacidade de dar de mamar e acabem optando pela mamadeira – o que não é recomendado, já que o aleitamento materno é superimportante.
Outra questão que deve ser mencionada é que não existe um consenso entre os pediatras, visto que alguns defendem que, uma vez seja diagnosticado que o recém-nascido tem a língua presa, a condição deva ser imediatamente tratada. Contudo, pelo menos em locais como Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, cada vez é maior o número de profissionais que defendem que a melhor abordagem é esperar, já que pode acontecer de a anquiloglossia se resolver sozinha com o tempo. De qualquer forma, cabe ao médico identificar a condição e discutir as melhores opções com os pais.
Tratamento
Se a cirurgia for indicada logo após o nascimento, é essencial saber que ela é bem simples e consiste na realização de um pequeno corte – com uma tesoura cirúrgica – para soltar o frênulo. O procedimento é feito com a aplicação de anestésico local, o sangramento é mínimo e o bebê pode mamar imediatamente após a cirurgia. Aliás, é indicado que o pequeno realmente mame logo em seguida, já que o movimento de sucção comprime o assoalho da boca.
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Caso a criança tenha que passar pela cirurgia mais tarde, tipicamente a operação é realizada sob anestesia geral, para que o paciente esteja adormecido durante a ação. É muito raro que aconteçam complicações, mas, assim como em todo procedimento médico, existem alguns riscos envolvidos, como sangramento e infecção ou danos às glândulas salivares ou à língua. Também pode acontecer de a cicatrização propiciar a reconexão do frênulo à base da língua, mas esses cenários são bem incomuns.
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