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O que é ser pai? O guia absoluto

O que é ser pai? O guia absoluto
Alô Bebê
abr. 13 - 20 min de leitura
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São Paulo durante os anos 1990 e 2000, tinha uma máxima que repetia sempre. Dizia que a relação mais bonita que se pode construir é a de pai e filho, ou pai e filha.

A relação entre a mãe e seu filho, ou sua filha, é linda, claro, mas é praticamente visceral, já nasce pronta e só se aprimora com o tempo e com o investimento de amor e de carinho.

A história entre um pai e uma criança, ao contrário, não tem nada de pronta. É pura construção. Ser pai — embora seja um ato biológico — não é automático, garantia Maria Helena.

É, antes, um amor construído a cada dia, com uma postura muito decidida e um desejo muito grande de cuidar e educar. Por isso, ela achava tão bonita essa relação e comemorava muito a decisão de um homem em ser pai.

No tempo em que vivemos, não é lá tarefa muito simples ser pai. A cobrança é gigantesca. A sociedade pede maior participação, mais presença, divisão de tarefas e cuidados. E os homens têm dito "sim" a tudo isso.

Mas algumas mães, preocupadas com seu próprio papel, às vezes fecham a questão, tiram o marido da jogada e dificultam a construção e a missão de ser pai. Isso é bem mais comum do que se imagina. Além de sobrecarregar a mulher, é cruel com o cara que quer estar junto, ajudar, compartilhar, cuidar, criar e educar o filho.

Decidir ser pai

Por isso, o passo número zero quando um homem vai ter um filho é decidir ser pai. É uma escolha mesmo, uma postura diante da vida e do que vem por aí.

Repare que é algo íntimo, que muda lá dentro. Tem a ver com o modelo de ser homem e ser pai que cada um traz dentro de si. Tem a ver com as heranças de família, com a maneira como se construiu o relacionamento com o próprio pai.

Às vezes, o futuro avô é visto pelo pai como um herói, o guardião da família, um grande exemplo a se seguir. Às vezes, infelizmente, é o contrário. Um cara sério, fechado, que trabalhava demais e pouco se envolvia com a rotina da casa ou os sentimentos dos filhos.

Nada disso, no entanto, é definitivo. Maria Helena Brito Izzo repetia sempre que a relação se constrói e o ser pai também é construção. A cada dia, quando acorda, o homem pode escolher ser uma figura incrível na vida dos filhos — mesmo daqueles que ainda nem nasceram.

Todos os dias, o homem pode decidir se afastar do modelo que teve em casa e inventar uma história novinha em folha que se tornará verdadeira e real na parceria com o filho ou com a filha. Essa é a beleza de ser pai. Todo dia é dia. Todo dia é de viver uma história de amor.

Diálogo com a parceira

Com isso posto, começam as tratativas com a companheira. É provável que ela mesma tenha uma série de expectativas em relação ao papel do pai, ao que imagina que é ser um pai. É muito legal conversar sobre isso, saber o que a mulher pensa, o que espera, o que deseja intimamente.

O diálogo afasta frustrações e cobranças e aproxima o casal na construção de uma história a três: mãe, pai e filho, que é única e inédita e que não tem dono e nem líder. São três pontas equivalentes, com necessidades válidas e desejos justos.

Algumas mulheres são mais tranquilas quanto ao que esperam do companheiro na missão de ser pai. Seja porque tiveram um pai bem bacana, que participou ativamente da educação e da criação dos filhos. Seja porque entendem que ser pai é algo que se constrói, que não vem pronto e que cada homem pode ir trilhando esse caminho com muita sabedoria.

Dividir tarefas

Nesse caso, ser pai é combinar a divisão de tarefas práticas e educativas. Por exemplo: a mãe amamenta, o pai troca as fraldas. A mãe dá banho, o pai coloca o bebê para dormir. Tarefas do dia a dia mesmo.

Na outra frente, se o pai é cinéfilo, pode fazer parte do ser pai levar os filhos ao cinema, apresentar os desenhos animados mais bonitos, ensinar tudo sobre a sétima arte. O mesmo vale para pais que amam cavalos, futebol, museus, ciências, enfim, aquilo que é do gosto do pai e ele quer deixar de herança para o filho ou para a filha.

Essa divisão não é feita numa planilha de computador, nem tem metas a seguir. É feita quase que naturalmente, mas com o desejo de transmitir algo de bom e algo de seu para os pequenos. Cabe à mãe, nesses momentos, incentivar. É bonito demais ver aquelas atividades que o pai faz sozinho com seus filhos, por gosto, por prazer, por ser pai.

Na contramão dessa estrada tem, como foi apontado lá em cima, mulheres que ao perceberem que o filho pode ter um outro grande amor — que não é ela — sofrem, ficam enciumadas, com medo de perder o poder e a ação sobre os filhos.

Antes de culpar ou maldizer essa mãe, pense um pouco: é um sentimento mais forte do que ela, que se mistura com proteção, com vontade de amar e ser amada, com o desejo de ser reconhecida como insubstituível na vida daquela criança.

Essa mãe acha, intimamente, que o pai não é capaz de fazer nada sozinho, que — se fizer — vai fazer do jeito errado e que ela, e somente ela, é quem pode atender ao filho em todas as demandas.

Às vezes, a mulher nem sabia que era tão ciumenta e possessiva até engravidar ou ter o bebê. O marido também não sabia e sofre bastante querendo se aproximar, cuidar da criança e dar uma força para a esposa, que deve estar exausta. Mas não consegue. Na trajetória desse homem, ser pai significa reconstruir uma história com a mulher da sua vida.

Vai ser preciso negociar e mostrar a ela que ter um pai presente torna a vida de todos muito melhor, muito mais bonita e leve. Dividir as tarefas não significa dividir o amor da criança. Aliás, o que os casais mais aprendem quando têm filhos é que o amor não se divide, sempre se compartilha, se multiplica e cresce. Sempre cresce.

À medida que a barriga cresce e que o bebê chega na casa e impõe seu ritmo, o casal costuma ir se acertando com as tarefas de cada um e o papel de cada um. Aquelas dificuldades iniciais, costumam ser bem resolvidas com paciência e diálogo. Quando a mãe está disposta a ser mãe e quando o pai está disposto a ser pai, um bom arranjo é feito e a vida costuma ganhar um bom ritmo.

Nessa toada, levantamos algumas questões que os próprios pais costumam colocar como dificuldades a serem superadas ou desejos a serem alcançados. Quando optam por ser pai, os homens encontram questões que as mulheres nem imaginam.

A primeira delas é sobre ser o provedor da família. Mesmo que a mulher sempre tenha trabalhado fora e sempre tenha participado ativamente do orçamento da família, quando engravida e logo depois que o bebê nasce, é certo que ela deve parar um pouco, reduzir o ritmo de trabalho — e consequentemente de ganhos — para amamentar e estar com o bebê durante a licença.

É uma herança antiga que as mulheres fiquem em casa com os filhos, cuidando e educando. Mesmo hoje, com toda a emancipação feminina e a conquista do mercado de trabalho por elas, esse arranjo ainda é bem comum.

Se for o caso da sua família, é bom o pai estar preparado para se sentir cobrado em dobro pelo sustento da família. Afinal, ele é quem terá de ir à caça para trazer o alimento da mulher e das crianças. Essa cobrança é, no mínimo, cruel, porque vem da sociedade, mas pode vir do próprio pai.

A boa notícia é que ser pai não tem nada a ver com trazer dinheiro para casa. Ser pai tem a ver com ser presente, com cuidar, com criar o filhote. Quando os filhos são pequenos, é claro que sustentá-los é fundamental, mas alimentá-los, acarinhá-los e ensiná-los a andar ou a usar o penico são tarefas ainda mais fundamentais.

Ser pai em primeiro lugar

O trabalho é importante, mas ser pai é mais prioritário. Fazer dinheiro é importante, mas criar os filhos é mais prioritário. Os antigos costumavam dizer que filho vem com o pão debaixo do braço. Ou seja, que se a família for a prioridade, o trabalho e o dinheiro serão os complementos e sua mulher e seus filhos vão ficar necessariamente bem.

Não estamos defendendo que o bom pai é o que para de trabalhar, mas é aquele que coloca o trabalho no lugar apropriado e a família no primeiro lugar. Assim, esse homem em vez de só buscar mais dinheiro, procura passar os momentos importantes junto dos filhos, conhecendo e trocando com eles. A troca aqui é simbólica e não material. Acredite, essas têm enorme valor e duram muito mais tempo.

Quando estiver no tempo de ser pai, seja pai. Integralmente. Desligue o celular, esqueça um pouco os e-mails que não param de chegar. Coma junto com seu filho, na mesa, conversando. Se interesse pelo dia dele e deixe ele se interessar pelo seu. Nas quebras de rotina, em viagens, ou finais de semana, passe o maior tempo possível com a criança. Fisicamente. Exclusivamente.

Combinado é combinado

Sobre a divisão das tarefas na lida com o filho, combinado é combinado. Você vai chegar em casa exausto, certamente, mas tem uma pessoinha ali precisando de você. Se é o pai que dá o banho, não terceirize a tarefa.

Lembre, você não está ajudando sua mulher fazendo um trabalho que deveria ser dela, e nem — como é uma pessoa incrível — está dando uma força. Nada disso. Você está sendo pai, criando seu filho, cuidando de uma criança que ainda não sabe fazer isso sozinha e que acha tudo mais legal quando o pai está por perto, participando.

Assim, equilíbrio é tudo. Combine com a mãe como pode ser essa rotina, como pode ficar bom para todos e cumpra. O nome disso é parceria e é uma excelente maneira de demonstrar na prática que você escolheu ser pai.

Mais do que isso, dá um orgulho interno bem grande perceber que você se propôs a algo e cumpriu. E seu filho achou você o máximo e se sentiu profundamente amado por isso. Crianças traduzem cuidados como amor. É disso que se trata ser pai.

É claro que ser pai também tem um lado duro. Mesmo que seu filho e sua filha sejam o máximo, que façam coisas incríveis e que provoquem altas gargalhadas na família toda, tem vezes que é preciso dar uma dura, mostrar os limites e lembrar a esse pequeno quem é que manda e quais são as regras nessa família.

É chato e dói — mais no pai do que no filho, com certeza — mas é o papel do pai educar, mostrar o certo e o errado e ficar nesse lugar de pai e não de amigão.

É esse papel que vai garantir um bem precioso e que não há dinheiro que compre: a confiança. Quando o filho entende que pai é pai, aprende rapidinho a chamar esse heroi quando tem um pesadelo, quando um amigo foi violento, quando fez uma bobagem e quer reparar, quando quer um bom abraço porque a saudade apertou. Ser pai tem esse lado e é um dos mais valorosos.

O mesmo vale para o exemplo. Seu filho se espelha em você desde o dia que nasce, entende que o pai é uma peça chave na família, que a mãe ama aquele cara e que, por isso, deve valer a pena ser como o pai.

A parte boa é: alguém admira você, quer ser igualzinho a você e tem certeza de que você é o cara. A parte difícil é que você vai precisar rever seus hábitos, seus comportamentos, suas reações e tudo mais, porque tem alguém que quer ser você quando crescer.

Criança aprende mesmo é por exemplo

Não adianta falar mal de cigarro e fumar. Não adianta pedir para recolher a bagunça do quarto e jogar lixo pela janela do carro, pedir para o filho comer os legumes, enquanto você degusta um balde de refrigerante.

O bonito de ter filhos é ganhar motivação para ser a pessoa que você sempre quis ser e ser o pai que você sempre quis ser. Olha aí que bela desculpa. Não se preocupe em escorregar, até os super-heróis tropeçam. Sempre dá para fazer diferente — e melhor — no dia seguinte ou no minuto seguinte. Seu filho vai notar que você está tentando e se esforçando para ser um grande cara. Isso também é exemplo e também é ser pai.

Mas, você sabe e eu nem precisaria dizer, o sentido dessa história de amor que se constrói com o filho não é transformá-lo num mini-pai, mas sim num super-ele mesmo, um humano incrível, generoso, solidário, que cuida dos seus e do mundo. Dá o dobro de trabalho, mas o resultado é maravilhoso.

Para ser pai é preciso que haja uma mãe. Pouca gente diz, mas um dos papéis mais importantes do pai é, justamente, amar essa mãe. Ela foi o caminho para o bebê chegar, é a dupla de ataque, ela será a mãe do seu filho.

Não importa muito como é sua família, se você é pai solteiro, se não é casado com a mãe do seu filho, ou se é casado e vive muito bem com ela. Seu filho ou sua filha vão admirar você ainda mais se você valorizar a mãe deles. Sem competir, sem menosprezar, sem falar mal pelas costas.

Às vezes, a mulher não tem a chance de ser uma mãe muito bacana. Mesmo assim, ser pai significa respeitar e tratar bem essa mãe. Cuidar dela, procurar ajudar em tudo. Se vocês vivem junto, pequenos cuidados, carinhos e uma valorização bem explícita fazem bonito, aquecem o coração da mulher e dos filhos também, que também aprendem a tratar a mãe e outras mulheres assim.

Intimamente também é preciso cuidar da mãe dos seus filhos que é, antes de tudo, sua companheira, sua mulher. É bonito ser pai e estabelecer uma parceria produtiva na criação dos filhos. É bonito também amar sua mulher e deixá-la saber disso. Dar a mão, abraçar, fazer carinho, namorar.

Não é por ser pai ou por ser mãe que a vida a dois acaba. Pode ficar meio conturbada no começo, sua mulher pode ficar muito confusa com os papéis, os hormônios fazem a libido despencar. Mas nada disso é motivo para desistir. Um bom abraço, um beijo roubado, e a disposição para amar essa nova mulher que nasce junto com a mãe são cuidados que valem a pena.

Um casal que se dá bem alimenta os filhos com um tipo de amor parceiro, solidário, empático. É um exemplo forte e duradouro. Em termos bem práticos, dá para ser pai e dá para ser um pai formidável. Como fazer isso?

1. Desenhe internamente o pai que você quer ser e batalhe todos os dias para ser esse pai. Comemore sempre que conseguir, diga para si mesmo que você deu um passo importante e siga nesse caminho.

2. Combine com sua mulher o papel do pai na família de vocês. Com equilíbrio, ponderação e atendendo ao que é importante para ela e para você. Lembre que nada nessa seara pode ser imposto, vocês estão lidando com os projetos de vida, os sonhos de cada um e com o futuro do filho de vocês que pode ainda nem ter nascido. Quanto mais claro for o papel de cada um, mais bonito fica o dia a dia.

3. Entenda que o papel do pai não é ajudar a mãe, mas sim ser pai. Pai é tão responsável pela criação, pelas tarefas e pela educação do filho quanto a mãe. Nem mais, nem menos. Cada um dá o que pode, as agendas precisam ser combinadas e a criança precisa ser atendida. Ponto. Não é vergonha trocar fraldas e não é caso de se achar o máximo porque preparou o almoço do bebê. Essa é a lida cotidiana, que deve encher o pai de orgulho por estar criando um filho saudável e feliz.

4. Tome a iniciativa. Não espere a mãe pedir, ou a professora sugerir, ou a avó dar uma dica. Vá e faça por seu filho. Se é sobre ele, é com você sim a resposta. Acredite que você sabe a melhor resposta, é capaz de resolver e vai fazer do melhor jeito. Talvez não faça da maneira como sua mãe e ou sua esposa fariam, mas e daí? Fará como sabe e como acredita ser o melhor para a criança. Se as pessoas palpitarem muito, relaxe, nem responda, fazer qualquer coisa pelos filhos vale mais do que fazer certo, ou como acham certo.

5. Ser pai é cuidar do filho, mas é cuidar do entorno também. Se você mora na casa, ela também é tarefa sua e não só da mulher. Se você usa o carro, ele é tarefa sua e não só da esposa, que usa mais e leva o bebê para a escola. Cuidar do que cerca o filho é tarefa do pai sim.

6. A mãe é a peça chave para o trio virar uma família. Mantenha sempre o diálogo e o jogo franco com a mãe do seu filho. Qualquer que seja a história de vocês, depois que ela engravida, a história zera e vocês têm a chance de fazer bonito, de começar, de plantar sementes que serão colhidas pela vida toda. Cuide dela, cuide do bebê e cuide de você. Pessoas bem amparadas somam na vida das outras e fazem a diferença entre viver e bem-viver.

Sua grande aventura — ser pai — começa agora. Passos firmes, farta distribuição de cuidados e mãos dadas com quem está fazendo de você um super homem.


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