Galos, pancadas, hematomas, cortes... Que criança nunca bateu a cabeça depois de tropeçar, enquanto aprendia a andar ou ao cair de algum banquinho e da cama? Bater a cabecinha está entre os os acidentes de percurso mais comuns com os pequenos e, como é dentro dela que fica “guardado” um dos órgãos mais nobres do corpo humano, é normal que os adultos se preocupem.
Aliás, essa é uma inquietação bastante louvável, já que nem sempre é fácil diferenciar uma simples batida na cabeça de algo que os pais devam levar mais a sério e que precisa de atenção médica. Isso porque, assim como as pancadinhas simples na cabeça são pra lá de comuns e acontecem o tempo todo, as lesões nessa região também estão entre as principais causas de deficiência e morte entre os pequenos.
Pois é... Ninguém gosta de sequer imaginar que algo como uma mera batida na cabeça possa ter consequências tão sérias para as nossas crianças, mas não podemos ignorar esse risco e o melhor que temos a fazer é nos armarmos de conhecimento para saber o que fazer no caso de que, desafortunadamente, uma situação grave se apresente diante de nós. Por isso, nós aqui da Alô Bebê reunimos uma porção de informações, dicas e conselhos neste artigo para sanar algumas dúvidas e ajudar os adultos a saberem o que fazer em caso de os seus pequenos se envolvam em algum acidente. Confira:
Batidinhas e batidões
Apesar de as pancadas na cabeça poderem ser bastante assustadoras para os pais e responsáveis, por sorte, na grande maioria das vezes, os machucados são bem piores do que parecem e não costumam ser sérios. Basicamente, as lesões na cabeça podem ser de duas classes: as externas, que afetam o couro cabeludo ou a face, e as internas, que podem lesionar vasos sanguíneos, o crânio e até o cérebro.
As lesões traumáticas internas, que afetam os vasos, o crânio ou o cérebro, são bem incomuns entre os pequeninos e, mesmo que ocorra algo mais grave, como um – tão temido – traumatismo craniano, a não ser que ocorra um sangramento e a formação de um hematoma, o médico apenas garantirá que tudo está bem com o pequeno e deixará que próprio organismo se encarregue de se recuperar da fratura.
O mais normal é que os bebês, antes de aprenderem a engatinhar e a caminhar, ganhem ferimentos na cabecinha por conta de quedas, como da cama, do carrinho ou de cima do trocador, por exemplo – geralmente em momentos de distração dos adultos (e estamos falando em momentos mesmo, pois, basta se distrair por um segundinho para que os acidentes aconteçam).
Então, conforme os pequenos ficam maiorzinhos e aprendem a engatinhar, andar e a se locomover sozinhos, as pancadas na cabeça normalmente acontecem por conta de quedas, encontrões com os irmãos e animais de estimação ou batidas de um objeto mais pesado. Se você tem crianças em casa, sabe que as mais novinhas são as mais propensas a sofrer batidas nas cabecinhas por ainda não terem tanto equilíbrio, segurança e controle dos movimentos. Sem falar que nessa etapa de desenvolvimento, elas se encontram na fase de testar os seus limites e não têm medo de nada!
Depois, quando as crianças crescem um pouco mais e aprendem a andar de bicicleta, patins, patinete, skate e afins, começam a praticar esportes, subir em árvores, correr por aí feito loucas, escalar toda e qualquer superfície e a fazer toda classe de macaquice que a molecada faz mesmo, o tipo de batida na cabeça muda novamente – e é aí que ela pode se tornar mais séria e preocupante.
Muita atenção
Infelizmente, por mais que os pais e responsáveis tentem evitar acidentes – e tenham considerado a ideia de manter os pequenos em bolhas ou envoltos em camadas e mais camadas de plástico bolha –, é simplesmente inevitável que eles aconteçam. Por isso, é importante saber analisar o machucado, aprender a diferenciar um ferimento superficial de um mais sério, identificar sintomas e saber quando se deve procurar a ajuda médica.
Se depois de a criança sofrer a pancada e aparecer um belo de um galo em sua cabeça, ela chorar por alguns minutos e voltar a brincar ou ao que estava fazendo normalmente, provavelmente não há qualquer motivo para preocupação. Esses costumam ser os casos mais rotineiros e é pouco provável que haja necessidade de procurar um médico – a não ser que o galo seja móvel e tenha consistência meio gelatinosa ou esponjosa ao toque! Aí pode ser que se trate de algo mais grave e uma visita ao pronto-socorro é recomendada.
Para a maioria das pancadas, a recomendação é a de aplicar uma compressa gelada no local afetado por cerca de 20 minutos a cada 3 ou 4 horas ou uma pomadinha específica para esses casos. Nessas situações, pode-se usar gelo também, desde que as pedras sejam envoltas em um tecido, uma vez que a aplicação direta sobre a pele pode causar ferimentos e queimaduras.
Os pais e responsáveis também devem ficar de olho na criança durante as próximas 24 horas e, se a pancada acontecer perto da hora de dormir, é importante dar uma checada no pequeno algumas vezes durante a noite para se certificar de que ele está dormindo tranquilamente, que a respiração está normal e de que está tudo bem. Não é necessário acordá-lo, já que isso poderia causar irritação. Basta com um toque para ver se a criança reage e se mexe como de costume.
Quando se tratar de imprevistos com bebezinhos, é indicado que a criança seja avaliada por um médico em caso de queda de pequenos com menos de 3 meses de vida. Se a criança tiver menos de 2 anos e cair de uma altura superior a 1 metro, ela também deve ser levada ao hospital, e o mesmo se aplica a pequenos com mais de 2 anos e que sofrem quedas do alto de mais de mais de 1,5 metro.
E se houver qualquer sinal de que a criança possa ter sofrido uma lesão mais grave ou se os seus instintos apontarem que parece haver algo de errado, ela deve ser levada ao hospital imediatamente. Afinal, mais vale prevenir do que que remediar, não é mesmo? Mas, calma, pois vamos nos aprofundar sobre essas situações mais adiante neste artigo!
Sangrou?
No caso de que a criança sofra um ferimento e esteja sangrando, lembre-se de que os machucados na cabeça, mesmo que sejam pequenos e pouco profundos, costumam sangrar profusamente, já que a cabeça consiste em uma região muito vascularizada do corpo e é repleta de vasinhos sanguíneos. Aliás, é por conta disso também que os galos e os hematomas se formam – uma vez que eles surgem por conta do acúmulo de um pouco de sangue ou outro fluído sob a pele.
É comum que a presença de sangue faça com que os ferimentos pareçam bem mais graves do que eles realmente são. Sendo assim, o primeiro a fazer é tentar manter a calma e não entrar em pânico! Na verdade, apesar de ser assustador ver uma criança sangrando bastante, nessas situações, os machucados costumam ser somente uma simples lesão externa, o que é algo positivo, visto que esses machucados normalmente não requerem muitos cuidados e saram mais depressa.
Assim, nessas situações, a recomendação é a de usar um tecido limpo ou curativo estéril para remover delicadamente o excesso sangue ao redor do machucado e, dessa forma, avaliar a gravidade do corte. No entanto, não tente limpar a ferida propriamente dita, uma vez que isso pode causar complicações caso haja fratura no crânio e tornar o sangramento mais intenso, nem remova qualquer fragmento que possa estar preso na lesão.
Falando em fratura, se houver suspeita de que a criança tenha sofrido uma, é melhor não aplicar pressão nenhuma sobre o machucado, e se o ferimento estiver aberto, a criança provavelmente precisará de alguns pontinhos, o que significa que um passeio ao hospital se fará necessário para avaliação médica em qualquer caso.
Independentemente de que a pancada tenha resultado em um corte feio e sangrento, um belo de um galão ou um mero roxinho, é de extrema importância que pais e responsáveis observem o comportamento da criança depois da batida. É normal que elas fiquem meio amuadas depois de se machucar – e chorar histericamente por conta do acidente. No entanto, se depois de uma hora ou mais os pequenos parecerem apáticos ou meio “fora do ar”, procure um médico.
Quando devemos ficar alertas?
Apesar de o cérebro se encontrar superbem protegido no interior da caixa craniana – onde ele fica envolto pela dura-máter, que tem uma consistência que lembra a do couro, pela aracnoide e pela pia-máter, além do líquido cefalorraquidiano, que atua como um amortecedor –, uma pancada forte pode causar o rompimento de vasos sanguíneos e até fazer com que o órgão se choque contra o interior do crânio.
Sendo assim, algumas dessas lesões internas podem ser bastante graves e potencialmente letais. Entretanto, como nem sempre o trauma é perceptível ou apresenta sintomas muito evidentes, é muito, muito importante prestar atenção na conduta do pequeno.
É crucial observar – imediatamente após a pancada e até ao longo de vários dias – se o comportamento da criança sofre alguma variação. Os pais e responsáveis devem ficar atentos se o pequeno se tornar mais irritadiço do que o habitual, ficar mais sonolento ou se recusar a comer. Também é importante observar se a criança parece mais confusa, desorientada, começa a reclamar de dores de cabeça, quer dormir muito, sente tontura ou apresenta náuseas e vomita várias vezes.
Outros sinais de alerta são a letargia, a fala mais lenta e atropelada do que o normal, a visão embaçada ou prejudicada, apresentar pupilas dilatas ou com tamanhos diferentes, movimentação irregular dos olhos, ter falta de equilíbrio e dificuldades para caminhar, mostrar problemas para sentir o cheiro do ambiente ou o sabor dos alimentos, zumbido constante no ouvido, sensibilidade à luz, perda de memória recente, palidez, sudorese e demonstrar irritação anormal a barulhos, mesmo que eles não sejam muito fortes.
Caso a criança ainda seja de colo e não saiba falar, além de sintomas como a letargia e a náusea ou vômito, o bebê pode apresentar dificuldades para se alimentar, choro constante e estridente e saliências na fontanela. E caso o pequeno perca a consciência, mesmo que apenas por alguns segundos, independentemente de sua idade, ele deve ser levado imediatamente ao hospital para uma avaliação médica.
O que é uma concussão?
Tecnicamente, uma concussão consiste em uma lesão cerebral traumática que não costuma deixar sequelas permanentes, e é relativamente comum em crianças. Mesmo as concussões mais leves tendem a deixar os pequenos mais cansadinhos e com dores de cabeça frequentes durante alguns dias. Já em casos mais severos, as crianças podem sentir dificuldade para dormir e de concentração na hora dos deveres ou na escola, e inclusive podem sofrer alterações de comportamento temporárias.
Os cuidados após as concussões envolvem fazer repouso e evitar atividades físicas ou que estimulem mais do cérebro, mesmo que se trate de um simples jogo de videogame ou joguinho no celular. O médico é quem ditará o período de descanso que necessita ser cumprido e, se os sintomas persistirem após alguns dias, o profissional deve ser contatado. Algumas crianças chegam a apresentar sintomas mesmo 6 meses depois de terem sofrido a concussão, portanto, é bom os adultos acompanharem com cuidado.
Outro ponto a considerar é que cada vez mais especialistas vêm prestando atenção em uma condição chamada “síndrome do segundo impacto”, que pode ser causada quando uma nova pancada acontece exatamente no mesmo local onde a criança já tinha um ferimento anterior que ainda não tinha sido completamente curado. Quando essa síndrome se dá, o efeito da batida pode ser mais persistente e, em casos raríssimos, inclusive ser fatal.
Diferentes tipos de traumatismo craniano
Entre as fraturas que podem ocorrer no crânio estão as lineares, que são aquelas em que o osso de rompe, mas não chega a sair do lugar. Portanto, além do período de observação, as crianças que sofrem este tipo de fratura costumam não ter que passar por nenhuma intervenção médica e são liberadas para retornar às suas rotinas após alguns dias.
Existem também as fraturas em que ocorre o afundamento do crânio, e essas normalmente requerem que a criança passe por procedimento cirúrgico para reparar o dano, as diastásicas, que ocorrem ao longo das linhas de sutura do crânio, isto é, nos locais onde os ossos da cabeça se fundem, e são as mais comuns entre os bebês de colo e as crianças mais novinhas, e as basilares, que são as mais graves, uma vez que envolvem a fratura do osso na base do crânio.
Quando esse tipo de fratura acontece, as crianças frequentemente apresentam hematomas ao redor dos olhos, dando a elas a aparência de ursos pandas, e atrás das orelhas. Nesses casos também é possível que um líquido clarinho comece a sair dos ouvidos, da boca e do nariz, e os pequenos necessitarão ser monitorados de perto no hospital.
Situações mais preocupantes
Em caso de que após a pancada na cabeça a criança apresente respiração irregular, desmaio com duração superior a alguns segundos, sangramento ou liberação de secreção clarinha pelo nariz, pelos ouvidos ou pela boca que mencionamos acima, assim como fraqueza em um ou mais membros do corpo, paralisia, dor ou rigidez no pescoço e convulsões, não pense duas vezes e corra para o pronto-socorro.
Se a criança ficar inconsciente após bater a cabeça, tente não a mover, por se também ocorreu uma lesão no pescoço ou na coluna. Entretanto, se o pequeno começar a vomitar ou a convulsionar, é necessário colocá-lo de lado para evitar que ele se engasgue ou aspire o vômito, mas a manobra deve ser feita com o máximo de cuidado e sempre mantendo a cabeça e o pescoço alinhados.
Embora seja incomum, pode acontecer de a pancada causar um hematoma subdural, que se dá quando o sangue se acumula entre a superfície do cérebro e a dura-máter, uma das membranas que revestem e protegem o órgão. Existe ainda uma variação dessa lesão, o hematoma epidural, que ocorre quando o sangue se acumula entre a dura e o crânio, e consiste em um quadro bastante grave.
Em caso de sangramento intracraniano, pode ser que haja necessidade de que a criança seja submetida a uma cirurgia para aliviar a pressão no cérebro, e apesar de os hematomas poderem ser sérios, se diagnosticados a tempo, eles podem ser tratados.
Diagnóstico
Entre os exames que podem ser realizados para diagnosticar corretamente a gravidade da pancada estão os hemogramas, as radiografias – que se baseiam no uso de radiação para a obtenção de imagens de estruturas como órgãos, tecidos e ossos –, as tomografias computadorizadas, que consistem em um método de diagnóstico por imagem que combina a tecnologia dos raios x com a de softwares para a obtenção de imagens detalhadas das áreas avaliadas, e as ressonâncias magnéticas, que empregam ímãs poderosos, diferentes radiofrequências e a tecnologia de computadores para a produção de imagens de órgãos e estruturas orgânicas.
Para que os médicos possam descobrir se há ou não um hematoma no cérebro que possa causar problemas, eles precisam submeter a criança a uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética, visto que os raios X, embora detectem possíveis fraturas no crânio, não revelam se houve esse tipo de lesão. Vale lembrar que, assim como acontece com as radiografias, não é indicado que os pequenos realizem esses exames com frequência, já que existe o risco de exposição à radiação.
Porém, dependendo da lesão sofrida pela criança, pode acontecer de o cérebro começar a inchar – e como ele se se encontra acomodado no interior da caixa craniana, não há muito espaço disponível, então, pode ocorrer de o pequeno desenvolver um aumento na pressão intracraniana, o que, por sua vez, se não for controlada, pode resultar em danos cerebrais.
A pressão intracraniana pode ser medida através da introdução de um cateter – um pequeno tubo transparente – no ventrículo cerebral, que consiste em uma área repleta de fluídos, ou de um pequeno dispositivo que é inserido no espaço entre o crânio e o cérebro. Independentemente do método, ambos procedimentos são realizados na unidade de terapia intensiva do hospital por médicos habilitados, e a criança é então conectada a equipamentos que farão o constante monitoramento do quadro.
A criança receberá medicamentos para ficar confortável e sem dor e, no caso de que seja detectado um aumento de pressão no interior do crânio, a equipe do hospital terá condições de atuar imediatamente para sanar o problema. Os especialistas também podem realizar eletroencefalogramas para acompanhar a atividade cerebral e, assim que os médicos detectarem a normalização do quadro e determinarem que o risco de que a pressão intracraniana volte não existe mais, os dispositivos são removidos, e os cuidados se voltam para a recuperação do pequeno.
Como minimizar os riscos de acidentes?
Infelizmente, é simplesmente impossível evitar que as crianças batam a cabeça, mas existem algumas formas de evitar acidentes e de minimizar o risco de que ocorram lesões mais graves. É vital sempre ficar de olho nos menores, especialmente quando eles começarem a engatinhar, a “escalar” móveis e a andar. Também vale instalar portõezinhos para bloquear a passagem para as escadas, usar tapetinhos antiderrapantes em banheiras e boxes, e colocar telas em janelas e sacadas.
Aliás, motive a criança a criar o hábito de usar capacete desde cedo, seja para andar de bicicleta – skate, patinete, patins etc. –, e comece por estabelecer regras, como a de que se o pequeno for subir em qualquer brinquedo que tenha rodas, ainda que elas sejam pequenas, o uso do capacete é obrigatório. Além disso, as crianças que praticam esportes de contato devem usar os equipamentos de segurança necessários e, nunca, jamais, permita que a criança ande de automóvel sem que ela esteja devidamente acomodada no cadeirão ou usando o cinto de segurança.
E, quando a criança se acidentar, o primeiro a fazer é não se desesperar e tentar manter a calma, pois só assim você poderá ajudá-la da melhor maneira possível. Isso porque, caso seja necessário levar o pequeno ao hospital, o profissional certamente perguntará detalhes do que aconteceu e do seu histórico médico, e você precisará estar preparado para responder e fornecer as informações que forem solicitadas.
Nós aqui da Alô Bebê esperamos que você nunca tenha que passar pela situação de ter que correr ao hospital com o seu pequeno por conta de uma pancada na cabeça. Mas, se acontecer, você já sabe quais são as medidas necessárias a serem tomadas! Aliás, você já passou por essa assustadora experiência? Divida a sua história conosco – e compartilhe este artigo com outras mamães!