Nunca sair de casa sem passar um gelzinho ou arrumar os cabelos, sem se certificar de que escolheu o modelito mais bonito e de que as cores das roupas combinam. Jamais se esquecer dos acessórios e garantir que eles não destoam do resto da produção. Sempre passar pelo menos um batom básico nos lábios e o perfume favorito. Estar em dia com as últimas tendências da moda e dar aquela conferida geral no visual diante do espelho antes de sair de casa.
Pode até parecer que estejamos falando de adultos super atentos com a própria aparência, mas, na verdade, não! Por mais surpreendente que possa soar, estamos nos referindo a crianças, e esses comportamentos que acabamos de descrever acima estão se tornando cada vez mais comuns entre elas. E, enquanto alguns pais acham bonitinho e até engraçado ver os seus filhos prestando tanta atenção à própria imagem desse jeito e agindo como se fossem “mini adultos”, também há os que se preocupam (e muito!) que os seus pequenos se tornem excessivamente vaidosos e escravos de ideais de beleza inalcançáveis.
No entanto, como aprender a diferenciar o que é normal do que é exagero, e quais podem ser as consequências da vaidade exagerada para o desenvolvimento infantil e futuro das nossas crianças? Pois esse é o tema que vamos discutir aqui neste post. Então, papais e mamães de plantão, venham conosco!
Modelos de referência para os pequenos
Não restam dúvidas de que a influência da família e do ambiente em que as crianças se encontram inseridas é imensa no desenvolvimento infantil, tanto é que os pequenos aprendem imitando os adultos que estão à sua volta e copiando o comportamento que observam nos outros, por exemplo. Com a vaidade não é diferente, e o cuidado e a preocupação com a autoimagem também se aprende desse jeito.
No caso das meninas, por exemplo, é muito comum que, de vez em quando, elas “assaltem” a nécessaire de maquiagem de suas mães e lambuzem todo o rosto com os produtos que ali encontram, brinquem de desfilar com seus sapatos de salto pela casa e vistam alguma peça de roupa que achem bonita e encontrem dando sopa em algum canto qualquer.
Os meninos também apresentam esse tipo de comportamento, e não é raro que peçam para terem o mesmo corte de cabelo dos pais, que roubem um pouco de sua espuma de barbear para fazer farra e, às vezes, insistam para passar um pouquinho de pós-barba ou de perfume sempre que veem seus “amigões” se arrumando para sair. Essas ações todas, contudo, são completamente normais e funcionam quase como se se tratasse de uma brincadeira – além de refletir justamente o que dissemos antes: elas são uma tentativa das crianças de reproduzir o que viram em seus modelos de referência, os adultos.
Os meninos não estão livres de se tornarem super vaidosos, mas não restam dúvidas de que as meninas tendem a mostrar uma maior preocupação com a própria imagem do que eles. Aliás, você percebeu que demos destaque para “de vez em quando” e “às vezes” nos parágrafos anteriores?
O problema, independentemente de que estejamos falando de meninos ou de meninas, começa quando o cuidado com a aparência deixa de ser algo esporádico e uma simples diversão, para se transformar em algo constante e que inclusive passa a interferir no cotidiano e nas relações que as crianças têm com os coleguinhas e outros adultos. Ou, ainda, quando os pequenos desenvolvem especial interesse por elementos como roupas, calçados e acessórios que não são compatíveis com a sua idade – e isso, sim, deveria pôr uma pulguinha atrás da orelha dos pais e colocá-los em estado de alerta.
Para tudo há limites
Não há nada de errado em incentivar as nossas crianças a se vestirem sozinhas, a arrumarem os cabelinhos para ficarem mais apresentáveis, nem em elogiar os nossos filhos em suas produções fashion. Em absoluto! Além de ajudar que os pequenos comecem a se tornar mais independentes, aprender a escolher as roupas que vão usar e a entender a própria imagem são simples ações que permitem que eles exibam suas personalidades e desenvolvam a sua autoestima e, consequentemente, cresçam mais confiantes e tenham relações sociais mais saudáveis.
Ademais, permitir que eles apliquem um esmalte vez ou outra e deixar que os pequenos usem gel e arrumem os cabelos para que eles fiquem arrepiados para ir à escola é completamente normal. No entanto, quando essas ações deixam de ser algo natural e se consolidam como hábito, as crianças deixam de fazer outras coisas e de curtir a infância em função da aparência e têm verdadeiros chiliques quando não conseguem ser atendidas pela manicure no salão, combinar esta peça de roupa com aquela ou insistem em usar maquiagem todo santo dia, aí, sim, pode ser que se trate de vaidade em excesso, o que não é nada positivo. E de onde é que ela surge?
Influência externa
A verdade é que a maioria das crianças querem ser exatamente como os seus pais, portanto é importante prestar atenção em como nós agimos e nos apresentamos diante dos nossos filhos. Se você está sempre falando de dieta, não sai da academia, cuida da aparência, mantém os cabelos em dia e jamais sai de casa sem antes dar um trato no visual ou sem maquiagem, é provável que os seus filhos estejam de olho e se estejam se espelhando nesses comportamentos.
Prova disso são as mães que curtem estilos mais conservadores e têm filhos que normalmente acabam tendo preferência por peças de roupa mais discretas, por exemplo. O mesmo pode ser observado em mães que gostam de exibir um pouco mais o corpo ou que sejam adeptas dos mais diversos tratamentos e tenham passado por cirurgias plásticas... Você já deve ter se dado conta de que não é raro que as filhotas queiram copiar o visual e inclusive demonstrem desde cedo interesse em se submeter a procedimentos estéticos, não é?
Mas, se não for o caso de observar a vaidade em casa, pode ser que exista pressão por parte dos coleguinhas da escola, forçando os pequenos a se apresentarem de determinada maneira para se sentirem aceitos pelo grupo. E não podemos nos esquecer que as celebridades, os youtubers, os personagens de desenhos e um sem fim de outras figuras exercem uma tremenda influência sobre os nossos pequenos – e os bombardeiam diariamente com estímulos que, se não tivermos muito cuidado, podem ser bastante negativos, em especial para as meninas.
Tanto que, com bastante frequência, nos deparamos com crianças que desejam ficar parecidas com os seus ídolos ou seguir modas e tendências que vêem os adultos usando pela TV, nas redes sociais, em lojas, revistas etc. E existe toda uma indústria focada em suprir – e inclusive nutrir! – essa demanda, seja com roupas, calçados, cosméticos ou adereços que, muitas vezes, são versões em miniatura, verdadeiras réplicas, do que os adultos (homens ou mulheres) usam.
No entanto, é preciso ficar alerta, pois nem sempre os cosméticos comercializados como sendo de uso infantil são realmente apropriados para as crianças e, no caso das roupas para meninas, especificamente, é importante observar que muitas peças estão se tornando gradualmente mais curtas, justinhas, reveladoras e sensuais – e usá-las pode motivar as pequenas a ingressar prematuramente em uma etapa de desenvolvimento que ainda não é a delas, além de poder gerar complicações futuras.
Sinais de perigo
Vale destacar que a linha que separa a vaidade saudável da vaidade excessiva é bastante tênue. Entretanto, existe uma série de sinais que podem indicar a presença de problemas. A criança costuma passar tempo demais se admirando diante do espelho? Ela teima em usar maquiagem e outros produtos de beleza todos os dias? Demonstra preocupação com o próprio corpo e se recusa a comer alimentos específicos por achar que está acima ou abaixo do peso normal para a sua idade?
Por acaso ela desenvolveu interesse por roupas e calçados de determinadas grifes e insiste que os pais comprem esses produtos, ficando muito contrariada quando não atendem às suas vontades? Ela dá mais importância à autoimagem do que aos estudos? Investe muito tempo cuidando da própria aparência e, no caso de que receba mesada, gasta todo o seu dinheiro em roupas, acessórios e cosméticos? Colocadas dessa forma, essas evidências todas parecem bastante claras, mas é bom ficar de olho, pois, muitas vezes, os sinais de perigo passam completamente despercebidos pelos pais, infelizmente.
Como agir, então?
Seja qual for a origem do problema, uma vez ele seja identificado, cabe aos pais e adultos que convivam no ambiente familiar estabelecer limites e encontrar maneiras de conversar com os pequenos de modo que eles compreendam e aceitem que são crianças e que para tudo existe um tempo certo. Também é imprescindível explicar quais foram os motivos que levaram os adultos a impor certas restrições, enfatizando carinhosamente que eles são jovens demais para se vestir de determinada maneira ou para usar este ou aquele produto.
Vale esclarecer ainda que o importante mesmo neste momento é que as crianças sejam apenas... crianças e aproveitem ao máximo essa etapa de suas vidas, uma vez que, embora ela seja uma das mais prazerosas e felizes de nossa existência, é passageira e, sendo assim, deve ser desfrutada em toda a sua plenitude.
O fato é que o excesso de vaidade pode impactar o desenvolvimento infantil, interferir no desempenho escolar, nos relacionamentos com os outros, ter influência no futuro da criança e até repercutir na vida adulta! Isso porque, se o problema não for solucionado, ela pode se tornar uma pessoa fútil e obcecada pela beleza, alguém constantemente preocupada em impressionar os outros por meio da aparência, em sempre elevar o próprio status, focando única e exclusivamente em seu universo.
Pode ser, ainda, que a vaidade exagerada tenha um efeito contrário e leve a criança a se tornar um adulto depressivo, incrivelmente inseguro, descontente consigo mesmo, eternamente em busca da aprovação dos demais ou de ideais inalcançáveis e incapaz de manter relações interpessoais. Esses são apenas exemplos, obviamente, mas, seja como for, o caso é que não há mãe ou pai neste mundo que deseje um futuro problemático para os seus filhos, não é mesmo?
Alguns cuidados necessários
Bem, falamos até aqui sobre os potenciais perigos que a vaidade excessiva pode oferecer, mas simplesmente reprimir toda e qualquer demonstração de vaidade e não estimular o cuidado – moderado – com a própria aparência pode ser igualmente prejudicial! O importante é que exista equilíbrio em tudo e que o bom senso prevaleça. Sempre.
Enfim, nós mencionamos anteriormente aqui no post que existe toda uma indústria focada na vaidade da criançada e em suprir as suas necessidades, certo? É bom esclarecer que as companhias que atendem ao público infantil só se tornam “vilãs” e passam a exercer uma influência negativa sobre os nossos pequenos se nós, os adultos, não formos vigilantes e permitirmos que isso aconteça.
Somos obrigados a concordar que, apesar dos pesares, é de extrema importância que existam produtos desenvolvidos especificamente para o uso das crianças e, de nossa parte, podemos tirar proveito da imensa variedade de cosméticos e itens disponíveis para o consumo dos nossos filhos. Mas vale ter algumas coisinhas em mente antes de sair comprando qualquer coisa por aí!
Cosméticos e higiene pessoal
As meninas mais jovens estão liberadas para usar maquiagem (desde que seja esporadicamente, é claro!). Mas, antes de as pequenas chegarem à adolescência, é recomendado que elas evitem os produtos convencionais, feitos para adultos, já que eles costumam ser mais fortes e conter ingredientes em sua formulação que podem aumentar o risco de que ocorram reações alérgicas e outros problemas. Sendo assim, dê preferência a linhas infantis, criadas especialmente para a pele das crianças, mais suaves e com menos perfumes e corantes que o normal, e que sejam de marcas respeitadas e bem estabelecidas no mercado.
Para as meninas maiorzinhas e que estejam entrando na puberdade, caso elas comecem a apresentar cravos e espinhas ou sua pele fique mais oleosa – o que é bastante habitual nessa fase, por conta das variações hormonais –, uma dica é que você sugira que as jovenzinhas continuem usando os cosméticos infantis de costume até que a situação se normalize ou, então, compre produtos antialérgicos, que são mais suaves do que os convencionais.
Sobre os shampoos, os condicionadores, os cremes de tratamento e até as opções leave-in (aquelas que não requerem enxágue e são aplicadas nos cabelos após eles serem lavados, sabe?), hoje existe uma vasta oferta de produtos focados no público infantil, que não agridem a pele delicada nem os cabelos dos pequenos – normalmente mais fininhos e frágeis do que os dos adultos. Então, se possível, tente evitar o uso de produtos convencionais nos seus filhos.
E já que estamos no assunto "cuidado com os cabelos", os tratamentos com química e que alterem de alguma maneira a forma ou a cor dos fios não são recomendados no mínimo até que a criança alcance a idade escolar. Em outras palavras, eles não devem ser aplicados antes dos 6 ou 7 anos, pelo menos, uma vez que os produtos usados podem agredir a estrutura dos fios, além de causar todo tipo de reação alérgica, tanto no couro cabeludo como na própria pele do rosto.
Com relação a perfuminhos, colônias, óleos e hidratantes corporais, também vale o conselho anterior, de que, sempre que for possível, dar prioridade para os produtos infantis, de preferência os que forem livres de álcool em sua composição e com baixa concentração de conservantes e pigmentos em sua formulação. Dessa maneira, mesmo que os seus pequenos insistam em comprar aquele produto cor-de-rosa, roxo, laranja, verde kriptonita ou azul Frozen, fuja de creminhos e loções que tenham tons vivos e muito coloridos!
Já no caso dos esmaltes e produtos de manicure, existem linhas infantis de qualidade disponíveis no mercado, mas, na falta delas – ou se a variedade de tons e cores não for muito do agrado da sua mocinha –, uma alternativa é optar por versões hipoalergênicas. Seja como for, certifique-se de que, independentemente do produto que você esteja comprando (shampoo, colônia, creme de tratamento para os cachos, esmalte, gel, gloss labial etc.), ele tenha o selo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
E os itens de vestuário?
Especialmente no caso das meninas, mamães e papais devem ter observado que algumas lojas oferecem opções de sapatos com salto para as pequenas. No entanto, é preciso ter bastante cautela na hora da compra, uma vez que esses calçados podem, além de causar dores e desconfortos, prejudicar a formação da estrutura óssea, prejudicar a postura, afetar o equilíbrio da criança e dar origem a problemas futuros, como desvios de coluna, por exemplo.
Com relação a itens de vestuário e acessórios em geral, conforme comentamos anteriormente aqui no post mesmo, algumas peças vêm se tornando cada vez mais reveladoras, chamativas e, basicamente, sensuais demais para o público infantil e podem “adultizar” as crianças. Não se esqueça que, pelo menos até determinada faixa etária, são os pais que detêm o poder sobre a decisão de compra, então, enquanto você puder, não permita que o controle fuja de suas mãos e caia nas dos seus filhos!
Está liberado colocar a criançada para fazer dieta?
Eis aqui uma questão que é bastante delicada e polêmica, visto que, além dos estímulos externos – afinal de contas, todos nós, incluindo as crianças, somos expostos todos os dias a imagens e mensagens relacionadas com os atuais ideais de beleza –, os próprios pais podem, sem querer e por puro excesso de zelo, exercer uma influência negativa sobre o comportamento de seus filhos.
Se a criança parece estar um pouco acima do peso ou até mesmo muito magrinha – lembrando que, em ambos os casos, pode ser que se trate de uma simples impressão –, os pais não devem, nunca, jamais, colocar os filhos para fazer regimes de emagrecimento ou de engorda por conta própria.
Antes de decidir se irá restringir a alimentação ou introduzir produtos hipercalóricos no cardápio das crianças, deve-se, sempre que possível, procurar a orientação e a ajuda de um especialista em nutrição infantil, um profissional habilitado a recomendar qual é o tipo de dieta mais saudável e adequada para os nossos pequenos.
Além disso, quando o assunto é a alimentação dos filhos, nada melhor do que lançar mão do bom e velho bom senso, você não concorda? Afinal, por mais que a gente goste de abusar de vez em quando e permita que os nossos pequenos se deliciem com chocolates, sorvetes, salgadinhos e outras besteiras – ou, ao contrário, os motive a seguir determinados estilos de vida mais saudáveis –, todo mundo tem perfeita noção do que faz bem e do que pode ser prejudicial para a saúde, então sabe que o exagero nunca é positivo.
Para finalizar, não é apenas mera impressão que o fim da infância tem chegado de forma prematura cada vez mais, e diversos estudos pelo mundo vêm sugerindo isso. Ainda é difícil prever as consequências dessa tendência nas gerações futuras, mas não custa reforçar que criança precisa ser criança e curtir essa fase de suas vidas. Os pais e as pessoas que convivem com os pequenos podem – e devem – ajudar a evitar que esse período acabe cedo demais, e é vital que se envolvam em brincadeiras e atividades que despertem o desejo de brincar, a imaginação e a curiosidade infantil.
E você, o que acha da questão da vaidade infantil e de como os excessos podem interferir no desenvolvimento das crianças? Concorda que os pequenos estão saindo da infância cada vez mais cedo e que muitos apresentam comportamento “adulto” antes do que deveriam? Você vive esse problema em casa ou conhece alguma mãe que esteja passando por essa experiência? Não deixe de compartilhar este post e de dividir com outros pais a sua opinião!