Os primeiros meses de vida de um bebê podem ser difíceis não apenas para a família mas também para o recém-nascido. O mundo é completamente novo, cheio de informações visuais, táteis e auditivas que ele nunca sentiu antes; na vida intrauterina, o bebê não prova nem enxerga nada, e os sons que escuta são bem limitados. Foi pensando nisso que surgiu o conceito de exterogestação.
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O que é exterogestação?
O prefixo extero significa fora, externo, por isso foi escolhido para ilustrar o conceito formulado pelo antropólogo Ashley Montagu no século passado. Sua teoria era de que a gestação não dura apenas 9 meses, mas sim 12, e seu último trimestre ocorre fora da barriga, sendo assim uma exterogestação.
Os primeiros meses após o parto são essenciais para que o bebê se desenvolva e se acostume com a vida fora do útero, afinal ele ainda não enxerga completamente, não fala, não pode se sentar ou sustentar a cabeça e precisa da ajuda dos pais para fazer tudo, assim como acontecia quando ainda estava na barriga.
Montagu chamou atenção para o fato de que, quando a evolução humana nos levou a andar sobre duas patas, os ossos da bacia feminina foram ficando mais estreitos e os bebês começaram a nascer mais cedo. Enquanto outros mamíferos nascem basicamente independentes, aprendendo sozinhos como sobreviver, os seres humanos precisam de muito mais apoio, especialmente nos primeiros meses de vida.
A exterogestação é, então, uma fase de transição para que os pequenos se acostumem ao novo mundo enquanto ainda são protegidos, cuidados e gestados pelos pais. No útero, o bebê é constantemente alimentado por meio do cordão umbilical, e isso muda no momento em que ele nasce e precisa chorar para ser atendido.
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Outra mudança importante é a de ambiente, pois o útero é constantemente aquecido, escuro e sem barulhos altos, muito diferente do quarto de hospital que o bebê encontra quando nasce. Depois do parto, a criança começa a sentir frio, conhecer sons e ver muitas luzes, cores e pessoas que não fazem parte do seu mundo. O conceito de exterogestação prega que os pais devem fazer o possível para tornar essa transição mais fácil e confortável para a criança.
Como isso é possível? Tentando recriar o ambiente uterino.
Como a exterogestação funciona na prática?
É claro que recriar o ambiente uterino exatamente como ele é não é possível nem algo que se possa fazer o tempo todo pelo bebê, mas algumas atitudes diárias podem tornar a rotina do recém-nascido mais fácil, confortável e parecida com o que ele já conhece. Isso pode ajudá-lo a se adaptar aos poucos à sua nova realidade e a se desenvolver com mais facilidade.
Confira algumas dicas:
Use um sling
Sling é uma faixa de tecido que, com diversos tipos de amarração, prende o bebê ao corpo da mamãe ou do papai. Essa é a melhor maneira de carregar a criança durante o dia, porque ela pode acompanhar todos os movimentos dos pais, ouvindo seus batimentos cardíacos o tempo inteiro. Além disso, a proximidade deixa o bebê mais confortável e permite que o responsável fique com as mãos livres.
Quando usar o sling não for possível, pode-se enrolar o bebê em uma manta, deixando pouco espaço para ele se movimentar, assim como acontecia no útero. Fique atento apenas à temperatura e ao rosto do bebê, que deve estar livre para que ele respirar.
Respeite o sono
Na exterogestação, é importante deixar que o bebê durma o quanto quiser, em um ambiente tranquilo e com pouca luz. Se for possível, também é recomendado que durma com os pais nos primeiros meses, mas sempre de maneira segura, sem riscos de sufocamento.
Ofereça alimentação em livre demanda
Como dissemos, na vida intrauterina o bebê não estava acostumado a ficar com fome. Por isso, é normal que ele chore e reclame quando quiser ser alimentado nos primeiros meses. O recomendado é que, nesse período, os pais o amamentem sempre que ele peça, porque a amamentação não apenas oferece nutrientes para o bebê mas também aumenta seu conforto e sua segurança.
Além disso, é importante ressaltar que, sempre que possível, o aleitamento materno deve ser a única fonte de alimentação dos bebês até o sexto mês de vida, pois o leite materno tem todos os nutrientes de que o bebê precisa para crescer forte e saudável.
Dê atenção especial à hora do banho
O banho em ofurô ou balde é o que melhor simula o ambiente uterino, sem muito espaço e com a água morna. Esse ambiente lembra o bebê do tempo que ele ficou no líquido amniótico e traz segurança e sensação de relaxamento. Muitos pais afirmam, inclusive, que essa é a melhor maneira de ajudar a criança a dormir ou a parar de chorar em dias estressantes.
Capriche no toque
Depois do parto, o toque é o primeiro sentido que o bebê passa a desenvolver. Abraços, carinhos, massagens e aconchegos se tornam a principal maneira de aproximação, ouvindo o batimento cardíaco dos pais para se sentir mais protegido e confortável.
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Além do contato físico usual, é recomendado que os pais aprendam técnicas da shantala, um método de massagem para bebês que os ajuda a relaxar e estreita os laços familiares.
Cuide do ambiente
Dentro do útero, o bebê não é exposto a muita luz ou a barulhos altos; na verdade, o que escuta são apenas os sons repetitivos da presença da mãe. Você pode reproduzir esse ambiente deixando o bebê em um local com pouca luz e uma música suave. A companhia dos pais torna esse momento mais íntimo e especial para a criança.
Quais são as vantagens da exterogestação?
A exterogestação traz benefícios para todos os envolvidos, particularmente para a mamãe e o bebê. Para o pequeno, essas simulações diárias da vida intrauterina fazem com que sua rotina inclua sensações conhecidas ao mesmo tempo em que ele se acostuma com o novo: as horas de sono corretas, os horários para se alimentar, os sons comuns da casa, o cheiro dos pais etc.
Ter algo conhecido e confortável em meio a tantas situações novas faz com que essa transição seja mais fácil para o bebê, sem um corte abrupto que possa abalar sua segurança. Em médio e longo prazos, esses primeiros meses com mais cuidado e apego podem trazer diversos benefícios psicológicos para a criança, mas a diferença também é notável para os pais.
A transição de grávida para mãe de um recém-nascido pode ser difícil; afinal, depois de 9 meses com um novo corpo e novas responsabilidades, ela se vê desempenhando o papel de cuidadora e responsável principal pela vida de um novo ser humano que precisa dela para tudo.
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As práticas da exterogestação não servem apenas para tranquilizar o bebê mas também para trazer momentos de proximidade e tranquilidade para os pais: enquanto o bebê relaxa, eles também se sentem mais calmos. E os laços familiares mais estreitos fazem bem para toda a família.
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